domingo, 3 de abril de 2011
Esta Velha Angústia...
Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha.
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este pode ser que...,
Isto.
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos
Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
Estala, coração de vidro pintado (*)!
(Álvaro de Campos)
(*)coração de vidro pintado : Frágil mas pintado. De transparência oculta. Nenhuma possibilidade seria mais natural do que a dele estalar.
Partir-se, destruir-se e desaparecer.
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