segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Emergências, boa noite!

Que o Corpo de Bombeiros é uma corporação valorosa, não tenho dúvidas.
Pela contribuição dada ao povo brasileiro, muitas vezes representada pela própria vida, eles são respeitados e queridos de toda a população.
Mas esse caso, que pouca gente sabe, manchou aquele conceito irretocável que eu tinha deles.
Era noite de sete de setembro de 2002 e meu pai agonizava aqui em casa. Eu e minha mãe resolvemos procurar por socorro, visto a delicadeza do quadro.
Ele estava por um fio: fraco, com dores e com muita dificuldade em respirar.
A situação era crítica.
Liguei para os Bombeiros, visto tratar-se de uma emergência com risco de morte, e qual foi minha surpresa quando o atendente - depois de segurar-me na linha por um tempo precioso - pediu para que eu ligasse para a âmbulancia do Hospital Municipal.
Fui "triado" por uma pessoa que decidiu, por telefone, se o caso de meu pai era grave ou não.
Desesperado eu implorei, mas isso não adiantou de nada.
Sem querer malhar em ferro frio deixei o Bombeiro para lá e liguei para o Hospital Samaritano (onde meu pai era conveniado pela Unimed). Lá, havia uma ambulância para o atendimento do convênio. Um direito estipulado em contrato que de nada adiantou. A resposta da atendente foi que o motorista deveria ser chamado para atender a ocorrência e, como ele estava na casa dele de "plantão", seria mais prudente e rápido pedir a ambulância do Hospital Municipal mesmo.
Não era hora de discutir, liguei para o Hospital e fui prontamente atendido. O rapaz responsável disse que era para eu me acalmar que em questão de minutos meu pai seria socorrido.
Dei meu endereço e ainda expliquei o caminho : desça a Avenida Raul Furquim reta e vire na Campos Sales que é na metade do 2o quarteirão.
Meia hora de agonia para a gente, que foi acrescida de desespero e dor a meu pai.
Meia hora para se andar 1 km e meio.
A "ambulância" que encostou na porta da minha casa, depois desse tempo todo, era uma Kombi velha com uma maca de madeira sem grades, nem correias : meu pai contou, nesses 06 quarteirões que nos separavam do hospital, com meu apoio para não rolar, literalmente, pelo chão da viatura.
Foi um sufoco removê-lo, rígido pelo Parkison, da cama até a Kombi só com a ajuda do motorista - o único que veio.
Foi um sufoco segurá-lo dentro daquela coisa que chamam de ambulância.
Foi um sufoco acompanhar minha mãe do lado de fora da UTI.
Foi um sufoco saber que ele não passaria daquela noite....
E ele não passou!

E os plantões do Corpo de Bombeiros, da Unimed e do Hospital Municipal transcorreram sem maiores novidades durante aquela noite toda.
E essas pessoas que me driblaram, enrolaram, fizeram pouco caso da gente e não deram a devida importância à vida do Sr. Sylvio, foram para a casa logo que amanheceu. Foram com aquela sensação do dever cumprido, do salário justificado.
Foram e dormiram o sono dos justos, enquanto eu velava meu pai naquela manhã.

Será que no Juizo Final seremos cobrados somente pelas coisas erradas que fizemos conscientemente?
Será que seremos cobrados pelas nossas omissões da forma que o seremos pelas nossas faltas?
Tenho muita coisa para explicar a Deus quando ele me "enquadrar" lá em cima.
Mas, fico mais tranquilo em saber que lá a fila, até chegar na minha vez, será grande.
Nela vai haver, pelo menos, um bombeiro, uma telefonista, um atendente e um motorista de ambulância, todos suando frio antes de mim.

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