quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Caminhando

Por ser cardíaco, deveria caminhar todos os dias. Mas, desde que me conheço por gente, fazer força física nunca foi o meu forte.
Era péssimo e detestava as aulas de Educação Física que, por serem mais cômodas ao professor e fazerem a alegria dos demais meninos, basicamente eram partidas de futebol.
Eu era persona non grata nos times e ficava sendo sempre um dos ( senão o ) últimos "escalados" pelos demais para defender a camisa ( ou a ausência dela ) do time da classe.
Minhas alegrias naquele tempo eram a música, os livros ( abundantes em minha casa ), os gibis e as duas invenções da minha vida : um "laboratório" com plantas mergulhadas em vidros ( com álcool, água e o que tivesse mais à mão ) que caberia hoje em uma caixa grande de sapatos ( calço 43 ); e a minha "discoteca", montada em um quarto que existia no fundo da casa, composta de um rádio-gravador ( que não tinha FM ), um rádio de válvulas que servia como amplificador, duas pequenas caixas de som, alguns alto-falantes espalhados pelo ambiente e luzes coloridas ( dessas pequenas que iluminam as santas pelas varandas ).
Como podem perceber, sempre fui cercado de pessoas e sempre muito distante delas. Era um solitário na verdade. E percebí, aos poucos, que existiam pessoas mais interessantes e com atividades mais "comuns" que as minhas. Delas eram as preferências de amizade dos demais. Restou-me ser o amigo coadjuvante, aquele que era chamado para "fazer número" e engrossar a turma. Sempre tive "melhores amigos" e nunca o fui de ninguém.
E assim, meio que solitário, vou caminhando.
Hoje a música continua pulsando dentro de mim e não vivo sem ela. Creio que o céu é barulhento : ao contrário do que a gente vê nas paredes das Igrejas.
Não sei tocar nenhum instrumento e desconheço, com exceção da clave de sol na música dos Secos e Molhados, o significado das notas músicais.
Não sei cantar e fui reprovado para compor o coral do Paraíso Cavalcanti em 1977 pela professora de Artes - Dona Alba Lessa ( de saudosa memória ). Confesso que isso se tornou uma das minhas secretas pequenas frustrações.
Hoje o meu laboratório tem HDs, memórias RAM, monitores, teclados e mouses. E não sei passar um dia sequer sem mexer nele. Continuo a não saber o conteúdo dos vidros, mas tenho o prazer de teclar e flutuar nesse mundo virtual do qual muito pouco entendo.

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