quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dores

Numa tarde de quarta-feira eu fui caminhar e, já à noite, caí.
Vou poupá-lo das circunstâncias de como isso ocorreu. Mas, deixo a você a impressão da dor e da vergonha que senti : estava conversando com duas primas queridas da minha mulher quando isso ocorreu. Falava pelo cotovelos ( minha triste marca ) e um deles foi o que mais sofreu.
Passadas as dores da vergonha e do impacto vêm as dores do corpo. Porém, sedentário e herdeiro das dores de minha mãe - que se alternavam entre o coração, as articulações e o inconformismo - estou acostumado a conviver com pontadas e entorses, que sempre rastejaram dentro de mim.
Mas dessa vez foi diferente, meu braço direito - justo ele - não estendia mais. E naquela noite após um banho sei-lá-como tomado, fui ao Pronto-Socorro.
Após medicado, fui conduzido à sala de radiografias da extinta Santa Casa da cidade para um diagnóstico óbvio nesses casos de queda.
Subindo aquelas rampas, num corredor estreito que vai da recepção ao restante do edifício, minha alma gelava. Da percepção a confirmação do porquê daquele sentimento bastou um segundo.
Foi por alí que no dia 04 de julho de 2006, ajudei a empurrar a maca que conduziu minha mãe para um desnecessário raio-X de tórax.
Naquela manhã de terça-feira e sob suspeita de pneumonia - desatinado veredito da médica de plantão - minha mãe buscava o ar que, para desespero dela e meu, havia desaparecido do mundo. Inquieta sob o aparelho de Raio-X ( que só funciona na imobilidade do paciente ) ela revirava aflita um lençol verde e se debatia sobre o travesseiro enorme de mesma cor.
Eu sofria ( sofro e sofrerei ) ao ver aquilo. Minha mãe sem aquele fôlego que se enchia para firmemente me ensinar quase todas as palavras que deito sobre esse texto não conseguia encher o peito sobre o qual adormeci por anos.
E eu ali, inerte, sem poder fazer nada contra a Natureza e o destino.
Me sentia impotente, covarde, frouxo, ingrato, péssimo...
Após aquela sessão de torturas e antes da radiografia ficar pronta, e já em outra sala, minha mãe partiu pros braços de Deus.

Nenhum comentário: