domingo, 15 de agosto de 2010

Túnel tinto de sangue

Esse caso da morte do filho da atriz Cissa Guimarães causou-me uma série de sentimentos contraditórios.
Fiquei chocado a príncipio, triste mesmo. Só em pensar na situação de uma mãe e de um pai que perderam seu filho de 18 anos de uma forma tão trágica assim.
Como se a idade e a forma da morte fossem algo muito relevantes para os pais nessa situação.
É claro que, quanto mais velhos os filhos e a forma da morte deles mais branda, o luto dos pais acaba por ser vivido de uma maneira mais confortável.

Outro sentimento que tive foi de pena dos pais e do jovem atropelador. Quem poderia imaginar que num túnel fechado para o trânsito, altas horas da madrugada, poderia haver um grupo de pessoas andando de skate ?
Pelas imagens dos meninos e dos pais, nos jornais e na televisão, a gente pode perceber que não se trata de um caso de deliqüência juvenil crônica e contumaz. Foi uma transgressão pontual e mal sucedida que, apesar disso, deve ser punida com a Lei.

Outro sentimento que eu tive foi o de raiva desse bando de imbecis que usam seus carros e motos como uma extensão do ânus, produzindo uma merda só por onde passam.
Cambada de imaturos e inconsequentes que querem provar, mais a sí mesmo que aos outros, que fazem alguma coisa a mais do que somente peso sobre a Terra.

Senti também certo inconformismo ao ver a Rede Globo querendo insistentemente mostrar que andar de skate dentro de um túnel em manutenção, às 2 horas da manhã e sem autorização de ninguém é uma coisa prá lá de natural. E tranferindo toda a culpa pelo acidente somente ao rapaz do automóvel.

E retorci meus nervos de indignação ao saber que a polícia obriga aos transgressores em geral a pagarem propinas para se verem livres das autuações e detenções, das quais eles não se importariam em sofrer o peso da Lei.
Ou seja, o cara pode até achar que merece ir para a delegacia ou levar uma multa daquelas.
Mas, não interessa : ele tem de pagar ao guarda a famosa cervejinha, quer ele queira ou não !

E, por fim, fiquei puto - mas, bota puto nisso - ao ver a tal da Cissa pichando as paredes do túnel, junto com os amigos do menino morto, em forma de homenagem ao filho.
O Rio de Janeiro está um caos, uma terra sem ordem, onde anda solta a corrupção da Polícia, onde as leis são ditadas pelas drogas e pelo tráfico, onde a urbanização sofre uma degradação irreversível, onde as belezas naturais já não seguram mais a fama da Cidade Maravilhosa e onde - infelizmente - quem não é malandro acaba sendo otário ( segundo eles mesmo dizem ).
O Rio de Janeiro acabou faz tempo.
E a Cissa bem que poderia levantar a bandeira da indignação por uma cidade melhor. Ainda mais em um caso onde corrupção e violência no trânsito são os ingredientes principais. E tudo isso divulgado com uma amplitude inegável : já que os fatos foram levados ao ar em cadeia nacional e sensibilizaram muita gente.

Mas, não ! Ela preferiu dar outro mau exemplo. Aliás, péssimo exemplo.
Pichando, degradou ainda mais o espaço público.
Local onde - entre outras coisas, como se jogar lixo, por exemplo - não se deveria "tirar um racha" ou se andar de skate pela madrugada.

Incentivou, assim, os miolos moles da vida a escalarem os muros da minha e da sua casa para escreverem um monte de coisas desconexas que só servem para - além de indignar-nos e enfeiar o ambiente em que vivemos - inflar o ego moldado pela ignorância, pelo egoísmo e pela falta de cidadania destes pobres seres.

E, para fechar com a chave de ouro da insensibilidade, restou-nos o gesto do ex-marido da moça e pai do rapaz : esse fez uma tatuagem enorme como forma de reverência ao menino. Como se tingir a pele fosse algo que desse dignidade ou melhorasse alguém.

Esse é o Rio de Janeiro e essas pessoas fazem parte dos nossos formadores de opinião.

Estamos bem arrumados, como diria meu finado pai.

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